É chantagem emocional?
- Luiza Natale
- 10 de ago. de 2023
- 7 min de leitura
Atualizado: 7 de mar.
Pode ser difícil notar que estamos sofrendo chantagem emocional, visto que o indivíduo que chantageia age através de vários recursos que levam a vítima a acreditar em sua narrativa. Assim, de várias maneiras, ele leva a vítima a abrir mão de suas decisões e vontades a favor dos interesses dele.

Portanto, como saber se há chantagem emocional na sua relação e como lidar com ela? Confira nesse artigo:
Como é a chantagem emocional
Se aproveitar das emoções do outro, como medo e preocupação, para atender a interesses próprios não é algo incomum de acontecer, ocorrendo nas mais variadas relações - como as românticas, parentais e de amizade.
Uma pessoa que faz chantagem emocional consegue notar quais são as fraquezas das pessoas com que interage e usar tais pontos fracos para alcançar objetivos e interesses próprios.

Para isso, o chantagista se utiliza dos sentimentos do outro, tais como pena, medo e autoestima baixa para controlar as ações alheias.
Tal contexto causa grande insegurança e ansiedade na vítima, levando a dúvidas quanto ao que fazer na relação. Com isso, a vítima muitas vezes coloca em dúvida seu próprio modo de pensar e agir, e acaba se adaptando às condições do manipulador.
Para ilustrar como isso pode ocorrer no dia-a-dia, frases como as seguintes são alguns exemplos comuns da chantagem para intimidar, coagir ou sensibilizar a vítima:
“Vou me matar se você me deixar.”
“Sempre fiz tudo por ti. Por que você não pode fazer isso por mim?”
Chantagistas também podem utilizar estratégias mais fáceis de percebermos, como a ameaça. Como exemplo, podemos citar quando um dos parceiros em uma relação romântica fica ameaçando acabar o relacionamento se o outro não fizer o que este quer.
Identificando a chantagem emocional
É importante não confundir a chantagem com desavenças e pedidos normais a qualquer relação. Um grande indício de que há chantagem emocional é a insistência e pressão que o outro exerce diante de qualquer negativa sua ao pedido dele.
Portanto, se suas opiniões, necessidades e vontades são frequentemente desconsideradas e suas decisões são respondidas com ameaças de abandono, rejeição ou distanciamento, esse é um grande alerta.

Assim, para você identificar se há chantagem em alguma relação, é importante avaliar a relação como um todo.
Algumas questões podem ser úteis nessa análise:
Você sente que faz muitas coisas que não gostaria? Quais os motivos que te levam a fazê-las?
Tem algo que o outro faça ou fale que faz você se sentir manipulado(a)?
Como o outro reage quando você nega algum pedido dele? O outro insiste até te convencer?
Você já tomou decisões importantes com base no que o outro queria e insistia apesar de sua vontade e/ou necessidade ser diferente?
Você também pode analisar eventos específicos para verificar se há comportamentos recorrentes da pessoa e discursos repetidos frequentemente com o intuito de controlar suas ações.
A pessoa que faz uso da chantagem emocional também pode agir como se fosse a vítima, de modo que busca sensibilizar o outro e controlar seu comportamento através da pena e culpabilização. E também é comum agir para mostrar seu poder, de forma a ter respeito e conseguir o que quer, pela ameaça e exigência.
Dicas para identificar se há chantagem emocional:
1. Dívida e relação desproporcional

Cria-se uma percepção de dívida por parte da pessoa chantageada, de modo que o chantageador cria uma narrativa em que ele fez muito mais pela relação do que a vítima.
Assim, a relação pode ser percebida como desproporcional, de modo que a vítima precisa se esforçar e fazer mais para demonstrar seu empenho na relação. E, claro, o jeito de conseguir isso é justamente fazendo aquilo que o chantageador pede.
2. Punições como ameaça

Esse fator é mais evidente, visto que o manipulador deixa claro que é capaz de prejudicar a vítima se esta não fizer suas vontades. Assim, observa-se a punição através de ameaças caso a pessoa não faça o que o chantageador quer. Alguns exemplos são:
“Se você não quer fazer o que pedi, vou embora para minha casa.”
"Se você não fizer isso, então não me ama, não tenho porque continuar com você."
"Se não quer fazer isso, não vou te convidar para a festa."
A ameaça de punição promove a sensação de perda caso a vítima não faça o que foi solicitado, junto com a percepção de culpa pelo ocorrido, responsabilizando a vítima pelas ações do chantageador.
3. Autopunição como ameaça

O chantagista percebe que o outro se preocupa com ele, e utiliza tal preocupação a seu favor. Isso ocorre quanto ele ameaça se machucar ou fazer algum mal a si se o que ele quer não for feito.
Ações de autopunição para coagir a vítima pode envolver algum comportamento prejudicial (parar um tratamento médico, dirigir embriagado, abandonar o emprego, etc.), práticas de autolesão (causar ferimentos físicos a si intencionalmente) e ameaça de suicídio.
4. Vitimizações

Também percebe-se frequentemente que o chantageador posiciona-se como a pessoa prejudicada na relação para gerar comoção no outro, enquanto a vítima é posta no papel de culpada por tudo que ocorre.
A principal estratégia é pôr a culpa no outro, de tal forma que o sofrimento é posto como responsabilidade total do outro e compete ao outro por fim nele fazendo o que o manipulador quer.
Assim, induz-se a culpa na vítima através de narrativas criadas, muitas vezes usando-se da distorção da realidade e de coisas do passado para confundir a pessoa e convencê-la de que ela está errada e precisa fazer determinada coisa.
5. Recompensa condicionada

Também é comum que o manipulador prometa algo bom, agrados, se seu desejo for atendido. Pode ser difícil perceber esta forma de manipulação, visto que muitas vezes pode parecer uma oferta ou troca de gentilezas.
Contudo, grande parte das vezes a promessa de recompensa não é cumprida e é comum que tal recompensa seja adiada, com mais uma nova exigência.
Um exemplo disso ocorre quando numa relação romântica a pessoa promete que não irá mais ter comportamentos de ciúmes depois que o parceiro assumir o namoro. E, então depois que isso ocorre, a pessoa continua tendo atitudes de ciúmes e controlando o parceiro, incluindo novas exigências para mudar.
Como lidar com a chantagem emocional
1. Primeiro, identifique - reflita sobre si e a relação
Algumas questões que podem te ajudar com isso podem ser:

Você desenvolveu costumes como se desculpar por suas ações, mesmo que não tenha feito nada de errado?
Você cede muito à pessoa em coisas que não deveria/não gostaria de ceder?
A pessoa nunca aceita um não como resposta?
Você não é capaz de dizer não à pessoa e manter a decisão?
O indivíduo te faz sentir culpado ou ameaçado por qualquer coisa que você faça que seja diferente do que ele quer?
Você considera mais o que o outro quer do que o que você quer em decisões que são importantes para sua vida por medo da reação dele?
Se você respondeu de forma afirmativa a muitas dessas perguntas, atente-se - esses são grandes indícios de que você pode estar sendo manipulado emocionalmente.
Portanto, observe se você cede aos desejos do outro por medo, culpa, obrigação ou pena e o outro usa isso para conseguir o que quer. E avalie também se é sempre você que cede ou se o outro também sabe abrir mão de alguns desejos pelo seu bem e pelo bem da relação.
2. Compreenda como o chantagista age

Após identificar que está em um contexto de chantagem emocional, é importante saber como isso se estabelece e ocorre.
Ao compreender como o chantagista age e manipula suas emoções controlar assim suas ações, você poderá recuperar o controle, evitando novas manipulações.
Portanto, agora que você leu o artigo, sabe que essas pessoas têm a tendência a usar as emoções da vítima (medo, obrigação, culpa, etc.). Como? Elas geram o medo em você de irritá-las ou a culpa por desapontá-las se não fizer o que desejam, conseguindo então o que desejam.
Você também já analisou sua relação na etapa anterior e deve ter percebido situações em que isso ocorre na sua relação. Assim, você já deverá conseguir identificar mais facilmente quando isso ocorrer novamente na sua relação, permitindo-lhe tomar uma decisão diferente, impedindo que o outro controle você novamente.
3. Aprenda a dizer 'não'

Agora que você já identificou a situação e compreendeu as táticas comumente usadas, você estará consciente das intenções e atitudes do chantagista, podendo tomar uma decisão diferente do que este exige.
Pode ser difícil dizer não, visto que isso envolve emoções fortes, como o medo e a culpa, mesmo quando se sabe que o outro está chantageando. Mas para sair dessa situação, é importante desenvolver essa capacidade de recusar determinados pedidos e manter a decisão por mais que o outro insista.
Você pode treinar sozinho, pedir ajuda para algum amigo ou profissional para evitar cair nas manipulações do outro.
4. Coloque limites

Quando você tem suas prioridades e limites bem definidos e compreende que estes são mais importantes do que agradar ao outros, a chantagem do outro perderá a força e poder que tem sobre você.
Isso também ajudará na sua habilidade de dizer "não", visto que seu objetivo na situação não só não será agradar ao outro, como você terá claro o que é certo e melhor na situação.
Também, pondo limites, você estará delimitando o seu espaço e impedindo que o outro o invada. Para isso, reflita sobre quais são os seus valores, necessidades, vontades e objetivos na vida.
Quando receber um pedido do chantagista questione-se se isso desrespeita esses pontos, ultrapassando os limites estabelecidos por você e comprometendo suas prioridades.
Atente-se que, por mais que você ame o outro, você merece respeito e consideração. Você precisa ter claro em sua mente que não se submeter ao controle do outro não significa não amá-lo ou desmerecer a relação. Na verdade, se há algo que prejudica uma relação e a impede de ser saudável é justamente a chantagem da pessoa e não sua recusa em se submeter ao controle dela.
Quando a chantagem emocional não é identificada
Quando a pessoa ama profundamente outra pessoa ou é apegada emocionalmente, pode ser muito difícil perceber essa relação de manipulação, mesmo que outros à sua volta a avisem.
Isso pode ser explicado em parte pela idealização que ela cria do manipulador e também pela própria característica da chantagem em que a pessoa que chantageia cria uma narrativa em que ela está sempre certa e o outro é responsável pelos erros.

Assim, promover conhecimentos como os presentes nesse artigo é muito importante. Disseminando tais informações, pessoas que sofrem com a chantagem emocional e também pessoas próximas ao seu círculo podem identificar a manipulação mais facilmente, abrindo espaço para enfrentar essa situação tão prejudicial.
Se houver outras variáveis envolvidas na situação, como apego emocional excessivo, dependência financeira do outro, entre outros fatores, pode ser ainda mais difícil sair desse contexto prejudicial. Com isso, há muitos outros elementos essenciais na solução do problema, como recorrer à ajuda da rede de apoio, busca de novas fontes de recursos financeiros e terapia.
Precisando, estou aqui <3
Luiza Teixeira Natale
Psicóloga clínica
CRP 05/77673
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