Quando perdoar?
- Luiza Natale
- 3 de jul. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 7 de mar.
A ideia de perdoar é um conceito bem conhecido, mas nem sempre fácil de pôr em prática. Veja mais sobre o perdão nesse artigo.

É comum o perdão ser exaltado como um ato de generosidade e compaixão. Mas, pensando em questão de saúde emocional, o perdão vai além do ato de bondade, sendo importante também para nosso bem-estar mental e emocional.
O que é o perdão?
Perdoar não significa simplesmente esquecer ou aceitar a ofensa. O perdão não significa tolerar comportamentos abusivos ou nocivos.
Podemos compreendê-lo, contudo, como um processo de cura, uma forma pela qual podemos nos libertar dos sentimentos de raiva, ressentimento ou vingança em relação a alguém que nos magoou ou mesmo em relação a nós mesmos.
Através do perdão, podemos mudar o jeito que entendemos a situação que nos magoou, processando os sentimentos dolorosos e abrindo caminho para uma abordagem construtiva.
Benefícios do perdão
Praticar o perdão pode nos proporcionar uma série de benefícios, tais como:

Reduzir o estresse: o ato de perdoar tem a capacidade de diminuir bastante os níveis de estresse que sentimos. Quando nos libertamos do ressentimento, liberamos a mente e o corpo do peso do estresse crônico que pode levar a diversos problemas de saúde, incluindo pressão alta e doenças cardíacas.
Promoção da saúde mental: O perdão está associado a níveis mais baixos de depressão, ansiedade e hostilidade. Quando concluímos o processo de perdão, podemos sentir melhorias no nosso bem-estar e mesmo na qualidade do sono.
Benefícios físicos: também há evidências de que contribui para uma melhor função imunológica, menor pressão arterial e menos sintomas físicos associados ao estresse.
Fortalecer relacionamentos: ele nos ajuda também a tornar nossos relacionamentos mais fortes, abrindo espaço para a construção de uma base sólida de confiança e empatia. Com ele, podemos melhorar nossa comunicação aberta e reduzir os conflitos.
Quando perdoar é importante?
Perdoar é um passo importante para a nossa cura, visto que guardar ressentimentos pode afetar nossa saúde.
Um motivo para geralmente haver tanta dificuldade em perdoar é a pessoa acreditar que, para perdoar, precisa concordar ou esquecer o comportamento do outro. Mas o perdão não significa aprovar ou aceitar o que o outro fez, e sim escolher não deixar aquilo controlar nossas vidas.
O perdão também é importante para fortalecer e manter relações que são importantes para nós, sejam familiares, amorosas ou profissionais. Através dele podemos superar conflitos e seguir em frente, contribuindo para a reconciliação e o fortalecimento dos laços.
Um grande motivo para perdoar é a importância do ato para nós mesmos e a promoção da sensação de liberdade e paz interior. Ao deixar de lado a mágoa, você dá espaço para sentimentos positivos e uma perspectiva mais saudável da vida.
Há momentos em que não devemos perdoar?

É importante não confundir perdão com continuar uma relação que nos faça mal. Embora perdoar alguém que nos prejudicou possa ser um passo importante em nossas vidas, não é aconselhável permitir que alguém que continue com atitudes abusivas volte à sua vida.
Há alguns casos que pode ser aconselhável adiar o perdão. Depende muito do contexto e das circunstâncias, mas vejamos alguns exemplos:
Se o outro não respeita seus limites e continua tendo atitudes controladoras
Se perdoar der espaço para a pessoa que te magoou voltar para sua vida e colocar a sua vida e a de outros em risco
Se você continuar sofrendo sintomas do trauma gerado pelas ações e presença da outra pessoa
Se você não está preparado(a) para perdoar e está tentando perdoar por pressão do outro
Se o outro não se arrepende e demonstra continuar as mesmas atitudes
Em casos de abuso ou violência contínua, perdoar pode colocar a vítima em risco - a segurança deve ser a prioridade
Se você continuar perdoando constantemente a pessoa pelos repetidos erros pode afetar sua autoestima e pode ser necessário considerar se realmente deve perdoar novamente caso a dinâmica da relação não se torne mais equilibrada e respeitosa
Alguns pontos a considerar:
Perdoar pode ser complexo e desafiador, pode ser relativamente rápido ou mesmo levar anos dependendo da situação, das pessoas envolvidas e do contexto.
Por exemplo, se somos traídos numa relação romântica, pode ser que levemos anos até perdoar (perdoar não significa manter/retomar a relação, podemos perdoar e ainda optar por romper). Enquanto escutar um insulto de um vizinho pode exigir menor tempo para alguém conseguir perdoar.
Vejamos alguns pontos para considerar ao buscar praticar e exercitar o perdão:
O perdão parte de nós, envolve nossas atitudes e emoções.
Perdoar não significa esquecer o que ocorreu. Em vez disso, perceba que você pode abrir mão da ruminação constante sobre o que aconteceu e de deixar isso controlar suas ações.
No processo de perdão, você pode ver seus pensamentos flexibilizados e alcançar novas emoções mais agradáveis de tranquilidade.
Não tente ignorar as emoções negativas sentidas diante daquilo que te magoou. Reconheça e permita-se sentir essas emoções, como raiva, vergonha e tristeza. Quando a emoção reduzir de intensidade, considere e repense a situação para seguir mais leve.
Promova seu autoconhecimento e desenvolva estratégias saudáveis para lidar com as situações difíceis - a psicoterapia tem muito a contribuir nesse caminho.
Conclusão
O perdão é uma prática poderosa que pode trazer inúmeros benefícios para a saúde mental e física e ainda contribuir para fortalecer relações. Apesar disso, é importante praticá-lo com consciência pensando no nosso autocuidado.

Nem sempre é apropriado ou seguro perdoar, especialmente em situações onde a ofensa é contínua e não há arrependimento, de forma que o erro e atitudes abusivas continuam presentes. O perdão é importante no nosso processo de cura e é uma jornada pessoal que cada indivíduo deve navegar de acordo com suas próprias circunstâncias e contexto.
Precisando, estou aqui <3
Luiza Teixeira Natale
Psicóloga clínica
CRP 05/77673
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