Ciúme: quando é excessivo?

O ciúme é uma emoção que pode nos tirar o sossego, gerando grande incômodo e preocupação com a relação. Embora seja mais lembrado em situações de relações românticas, também pode acontecer em nossas relações com algum familiar ou amigo. Você sente ciúme mais do que gostaria? Veja nessa artigo mais sobre o assunto.

O que é o ciúme?

O ciúme é uma emoção humana universal, comum, já que todos nós de alguma maneira já o vivenciamos, embora quando em excesso possa se tornar patológico. O ciúme é uma emoção complexa, pois envolve várias outras manifestações, como a raiva, o medo, a ansiedade ou a insegurança diante da ideia de perda.

Esta emoção geralmente ocorre diante de uma percepção (correta ou não) de que outra pessoa se torna uma ameaça para a relação. Assim, como o indivíduo sente que há uma ameaça para o relacionamento, ele sente um risco à segurança afetiva da relação, como a perda do amado.

Considerando que muitas vezes a percepção de ameaça é infundada, não saber lidar com o ciúme pode trazer prejuízos adicionais, como a mágoa do parceiro por não receber nossa confiança, podendo levar a mais conflitos.

Portanto, levando em consideração o ciúme em toda sua complexidade e as diversas emoções envolvidas, como o ódio e o medo, é importante que possamos nos atentar, analisar e trabalhar essas manifestações. Isso por que se houver ciúme excessivo, a pessoa pode perder o controle de sua situação emocional e gerar danos a si, ao outro e à sua relação.

Quando o ciúme é excessivo?

Não é incomum ver pessoas criando vários cenários mirabolantes de traição por parte do seu companheiro, amigo ou familiar. Não é questão de negar a realidade, sabemos que muitas pessoas foram traídas de x maneiras, muitas pessoas traíram de n formas. Mas, também, muitas pessoas desconfiam de traição ou algum tipo de ameaça sem motivo, sem haver indícios ou razão para desconfiar do outro.

Nestes casos, fica difícil para a pessoa diferenciar a imaginação da realidade, as dúvidas crescem e viram ideias muito valorizadas, as quais são tomadas com convicção como sendo verdade.

Portanto, o ciúme patológico é diferente do normal, tanto na intensidade quando no tipo. Isso significa que ele gera sofrimento em quem o sente e em seu parceiro, objeto da desconfiança.

Diante desta emoção intensa, a pessoa pode desenvolver comportamentos obsessivos e difíceis de evitar, com o intuito de sanar suas dúvidas ou impedir que o pior aconteça, tais como:

Adaptar sua rotina para ir conferir se a outra pessoa está no local informado, fazendo o que informou e se realmente está com quem disse que estaria.
Invadir as mensagens e e-mails privados da pessoa, vigiar redes sociais, violar correspondências.
Vasculhar bolsas, carteiras, recibos, roupas e objetos diversos em busca de provas da possível ameaça.
Interrogar constantemente em busca de confirmação das suas dúvidas e de deslizes/incongruência nas falas.
Insistir para acompanhar a pessoa a todo e qualquer lugar para manter a vigia.

Assim, o indivíduo com ciúme demonstra:

Muitas vezes perfeccionismo, sendo dedicado demais;
Convicção de seus próprios pensamentos de desconfiança;
Descrença nas evidências e sinais apresentadas pelo outro;
Descrença no outro, achando que está sempre mentindo e enganando;
Tentativa de controle sobre o que o outro faz, pensa ou fala;
Necessidade de saber por que o outro se veste de tal jeito ou faz tal coisa;
Esforço para controlar, e sentimento de posse sobre o outro.

Enfim, são comportamentos diversos que se destinam a identificar evidências e confissões que confirmem suas suspeitas e/ou que impeçam que a ameaça se concretize. No entanto, mesmo não encontrando nada, as dúvidas permanecem, ou mesmo aumentam ainda mais, visto que a fala do outro nunca é detalhada e boa o suficiente para a expectativa da pessoa com ciúme excessivo.

Quais são as causas?

Há diversos fatores que podem desencadear o ciúme excessivo, sendo preciso considerar a história de vida da pessoa, o contexto social e tantos outros elementos que sempre influenciam no modo como as pessoas agem.

Mas, somente para elencar alguns elementos, a pessoa pode ter alguma dificuldade em seus aspectos emocionais que geram insegurança, baixa autoestima ou imaturidade emocional. Para compreender a fundo mesmo, é importante considerar a história de vida e as crenças que a pessoa desenvolveu ao longa do seu desenvolvimento.

O indivíduo pode ter desenvolvido crenças sobre abandono, solidão e perda que geram o medo profundo de perder a pessoa; também pode haver crenças que geram o medo de ser enganado, a insegurança no mundo. Com isso, há a dificuldade para regular suas emoções e lidar com a situação de uma forma mais efetiva.

Como lidar com isso?

É difícil encontrar alguém que diga que gosta de sentir ciúme, no entanto, assim como qualquer emoção, ele tem sua função, surgindo como um sinal de alerta, quando acreditamos que algo não está indo bem. E tentar simplesmente reprimi-lo pode dificultar as coisas.

Isso porque em algum momento todo o incômodo e ciúme acumulado podem se manifestar de algum modo que não gostaríamos. Ou mesmo ir aparecendo de forma tóxica em comportamentos diários de controle e acusações, levando a prejuízos na relação.

É importante, portanto, compreender e sentir a emoção. Questione-se sobre quais são suas raízes e o que está motivando essa emoção. São questões internas, crenças sobre si e sobre o mundo? Que tal lidar com elas? É algo que seu parceiro fez e você achou incômodo? Que tal conversar com ele sobre a situação para ambos compreenderem melhor o que houve e identificar o modo mais saudável de lidar com isso?

Os motivos por trás do ciúme precisam ser compreendidos para lidar com eles, do contrário, como saberíamos de que modo lidar com ele? O ciúme não surge do nada, houve algo interno e/ou externo que o fez se sentir ameaçado. Desta forma, é essencial se questionar de onde essa emoção está vindo.

Você pode se fazer questões como:

Qual é, exatamente, a ameaça que minha relação está sofrendo?
O que de pior pode ocorrer? A traição? O abandono? O que eu sentiria se essa ameaça acontecesse de fato?
Se a ameaça for real, o que isso significa sobre mim? E sobre o mundo?
O ciúme é reflexo de alguma insegurança minha?
Houve algum trauma que possa ter causado meu medo (de abandono, etc.)?
Já houve algum tipo de infidelidade?
Há sinais e indício para eu ficar desconfiando?
O meu medo está me levando a interpretar a situação de modo exagerado?
Quais são as situações que são gatilho para o meu ciúme? Em que momentos o ciúme aparece?
Meu parceiro está ultrapassando algum dos limites da relação?

Com essa autorreflexão você pode considerar melhor todas possibilidades e identificar onde pode estar o problema. Também é importante a honestidade, se você está preocupado com isso e até agora guardou para si, você pode conversar cordialmente com seu parceiro sobre o que está te incomodando. Em uma conversa aberta e sincera, vocês podem identificar mudanças que podem ajudar a lidar com o ciúme de forma mais saudável.

Mas se você sente que o ciúme está pesado demais para lidar com ele, conte com a sua rede de apoio, você sempre pode contar também com o apoio profissional.

Psicoterapia

Assim, com o apoio profissional, você poderá ter apoio emocional para compreender quais processos estão ocorrendo, para lidar de uma nova forma com o ciúme. Dessa forma, com o processo psicoterapêutico, você pode compreender mais a causa da sua emoção e desenvolver um novo modo de trabalhar tais emoções, de forma a melhorar sua relação e sua saúde emocional.

Com a terapia, você pode desenvolver sua autoestima e segurança necessários para o amor próprio, descobrir a origem do ciúme e aprender técnicas e estratégias de enfrentamento para lidar melhor com as situações.

Quando estamos disponíveis para o nosso processo terapêutico, ele possibilita o nosso crescimento, mudanças e maior bem-estar em nossas vidas.

Precisando, estou aqui <3

Luiza Teixeira Natale

Psicóloga clínica

CRP 05/77673